Educar,
criar hábitos pessoais e sociais corretos, desenvolver a autonomia das crianças
exige muita vontade e determinação, mas também muito tempo e disponibilidade –
tudo aquilo que, em geral, falta às famílias de hoje!
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as birras, deixar as fraldas, largar a chupeta e o biberão, comer pela sua mão,
saber estar à mesa com os adultos, vestir-se a si próprio, tomar banho sozinho,
respeitar os outros, em particular os mais velhos, cumprir regras são,
efetivamente, hábitos fundamentais para o crescimento das crianças, mas que, ao
contrário do que pode parecer, exigem de nós, pais e educadores, muito tempo.
Se
elas viessem ensinadas e treinadas seria, então sim, para nós, muito mais
fácil: já teriam todos esses hábitos interiorizados! Mas como assim não é,
muitas vezes, dá menos trabalho e é bem mais fácil: ceder ao choro e dar-lhes o
que querem no momento, porque já não os podemos ouvir; pôr-lhes uma fralda,
para não termos de nos levantar duas ou três vezes durante a noite ou, então,
para não estarmos ali tanto tempo à espera…; dar-lhes a chupeta, para que
adormeçam mais depressa; “enfiar-lhes” o biberão enquanto nos vestimos;
vesti-los e “despachá-los” de manhã para podermos chegar todos a horas ao
trabalho; dar-lhes de jantar na cozinha, separados do resto da família, para
jantarmos em paz; deixá-los interromper e sobreporem-se aos adultos, senão não
se calam; etc., etc., etc.
É,
de facto, mais consentâneo com o nosso ritmo de vida, com as exigências atuais,
com a nossa pressa constante, com o nosso frequente cansaço e até com o nosso
comodismo cedermos, naquilo em que devíamos ser exigentes, deixarmos para
amanhã aquilo que devia ser feito desde já, adiarmos um pouco o que sabemos vir
a ser inevitável – “Até porque também nós temos os nossos interesses e temos de
ter o nosso tempo e a nossa vida, então, não é?!… e eles, também, coitados!...”
Por
isso — e afirmo-o com vasto conhecimento de causa — é, hoje, tão frequente ver
crianças numa estranha discrepância: mexem com enorme à vontade em consolas,
comandos, vídeos, computadores e telemóveis, papagueiam umas palavras em
inglês, veem telenovelas e programas de gosto discutível, discutem com os pais,
avós e educadores, mas, muitas vezes, aos 5, 6 , 7 anos ainda usam chupeta e
até fralda à noite (pasme-se!!!), tomam biberão de manhã, são incapazes de
estar sentados à mesa, não articulam a maioria das palavras com correção, mas
interrompem, sistematicamente, os adultos!
Neste
tempo de tanta contabilidade, para pais e educadores é uma pura ilusão esta
economia de tempo e de esforço! Mais não fazem do que adiar os problemas e, na
maior parte dos casos, de os agravar. Porque deixam consolidar hábitos que
demorarão muito mais a corrigir, porque infantilizam as crianças, porque lhes
criam, no futuro, problemas na relação com os outros e na convivência social e,
sobretudo, porque atrasam a sua aprendizagem e o desenvolvimento da sua
autonomia.
Em
casa ou na escola, é necessário bom senso para educar! Mas, mais do que isso, é
necessário tempo e disponibilidade: o tempo gasto na “hora certa” não é tempo
perdido! É um tempo ganho em termos de bem-estar e desenvolvimento da criança…
e, a prazo, em termos da sua própria liberdade e autonomia, enquanto adultos!