O BULLYING é um fenómeno de
violência à escala mundial e muito mais frequente no nosso contexto escolar,
apesar de nem sempre ser reconhecido e admitido. A escola é um cenário
privilegiado para este comportamento de agressividade se desenrolar uma vez que
é neste espaço que se cruzam crianças de diversas faixas etárias. No entanto,
este fenómeno é passível de acontecer dentro ou fora da escola, em áreas em que
a ausência de supervisão do adulto se faz sentir, ou então, esta vigilância é
pouco eficiente.
O termo BULLYING surgiu nos
Estados Unidos e não reconhece qualquer terminologia correspondente na Língua Portuguesa. No entanto,
existem algumas manifestações, mais significativas e comuns que o caracterizam como
por exemplo: ofender, gozar, humilhar, discriminar, excluir, intimidar, assediar,
amedrontar, dominar, bater, roubar. Aplica-se a todas as formas de atitudes
agressivas, intencionais e repetidas que ocorrem sem motivação evidente. São comportamentos
adoptados por um ou mais estudantes contra outro (s), causando dor e angústia;
geralmente, estas atitudes são exercidas dentro de uma relação desigual de
poder, sendo assim os actos repetidos entre iguais e o desequilíbrio de poder
as características essenciais que tornam possível a intimidação da vítima.
Os agressores ou bullies são
na generalidade crianças ou jovens que despertam pouca empatia, são impulsivos
e dominadores com baixa tolerância à frustração, não obedecem às regras e
encaram a violência de uma forma positiva. Estes elementos podem pertencer a
famílias desestruturadas, nas quais o relacionamento afectivo entre os seus
membros é desvalorizado, relações em que os pais exercem pouca ou nula
supervisão sobre eles, toleram e oferecem como modelo para solucionar conflitos
o comportamento agressivo. Este contexto envolve o Bully que aspira
conquistar poder e domínio, ambiciona fama e popularidade na escola, optando
pela via do terror, semeando o pânico, amedrontando os outros, as Vítimas.
Ao lado das vítimas encontramos os Defenders , que abominam o BULLYING
e se opõem a estes comportamentos de violência. Em apoio ao Agressor
estão os Bystanders, alunos que testemunham os actos de violência. Por
fim os Outsiders que perante estas situações de violência não se
manifestam, por vezes com receio de serem as próximas Vítimas.
Há ainda a considerar o BULLYING em
duas modalidades. O BULLYING directo
e indirecto em que o primeiro é reconhecido como o modelo mais frequente entre
os bullies
do género masculino, e o segundo é reconhecido como o modelo utilizado por bullies
do género feminino e crianças mais pequenas. O padrão emergente no BULLYING indirecto visa forçar a vítima
ao isolamento social. A criança é vítima de comentários perversos sobre a forma
de vestir, etnia, condição social, incapacidades, entre outras. A Vítima é
objecto de uma campanha hostil que ambiciona destruir a sua auto-estima e
afastar as outras crianças da sua companhia.
Como refere Olivier Christiane,” as crianças violentas provêm, na sua maioria de uma família em que os
próprios pais eram violentos quer fisicamente quer moralmente, sendo assim a
criança integra a violência como modelo de comportamento na defesa contra o
Outro, no caso de dificuldades”. Este comportamento poderá levar a que o
jovem venha a ser um adulto com comportamentos anti-sociais e/ou violentos,
podendo vir adoptar atitudes delinquentes ou criminosas.
Neste contexto podemos subentender que também os bullies são vítimas e que
carecem de ajuda e acompanhamento de técnicos especializados. No entanto a
maior Vítima é sempre a criança ou jovem humilhada que pode nunca
recuperar das agressões infligidas.
É urgente estar atento a comportamentos de ansiedade /sensibilidade a
determinadas brincadeiras; perda/baixa auto-estima; tristeza e irritação; medo
de expressar emoções; problemas de relacionamento; abuso de drogas e álcool; auto-mutilação
e mesmo bullycídio. Esta é a nova
terminologia que deriva do inglês bullycide
e corresponde ao suicídio da vítima de BULLYING.
Crianças que subitamente apresentam estes sintomas e ou que iniciam um processo
de rejeição da escola, que começam a apresentar índices de absentismo elevado
podem estar a ser Vítimas deste fenómeno de violência.
Um constrangimento inegável em todo este fenómeno comportamental acontece
quando somos confrontados com a possibilidade da existência de BULLYING em contexto de Jardim de
Infância.
Segundo Allan L. Beane, professor norte-americano com mais de 30 anos de
experiencia e autor do livro A Sala de Aula sem Bullying, este
padrão de comportamento pode surgir aos dois anos de idade.
Felizmente até ao momento parecem ser pontuais os casos de agressão
física em ambiente de Jardim de Infância, no entanto não tão raramente somos
confrontadas com comentários menos simpáticos entre as crianças. Há que saber intervir
e não permitir que as crianças possam desenvolver um padrão de comportamento
sistemático de intenção de humilhação no Jardim de Infância, num momento precioso
da estruturação da personalidade do indivíduo. Cabe a cada uma de nós,
Educadoras de Infância, que numa posição privilegiada com as crianças e, em
conjunto com a família, um papel fundamental ao não negligenciar qualquer
indício suspeito de comportamentos violentos ocorridos de forma sistemática. Fica
aqui o alerta.
Assim, é fundamental que a
Família e a Escola estejam conscientes deste fenómeno e que o problema possa
ser resolvido em parceria a fim de serem tomadas providências e acautelar um
futuro de violência.
Beane,
Allan L. A Sala de Aula sem Bullying, Porto Editora, 2006
Olivier, Christiane,
Violência Infantil: o
que fazer,
Lisboa, Editora Prefácio, 2002.
Ano lectivo 2011/2012
As Educadoras da EB1/JI do Outeiro
Helena Sousa
Ana Cristino